quarta-feira, 2 de outubro de 2013

SAUDADES DO SERTÃO ANTIGO

TODA SODADE É ASSIM
 

Meu patrão, eu reconheço
E sei cuma é caro o preço
De uma arrescordação...
- O prazê da mocidade,
Pra se pagar com sodade...
Hai muita expiloração!
 
Às vez, a gente lucrou-se
De tão pouco, qui acabou-se
Sem o gosto do bom senti.
Depois dos tempos passados
Os gostos vão ser cobrados
Com juros – sempre a subi.
 
As contas sempre são véia,
Só é nova a churrutéia
Se as lembranças vem cobrá.
O freguês paga tudinho...
Mas, fica sempre um rabinho,
Pra conta continuá.
 
Um namoro atrás do muro,
Um passeio no escuro...
Uma bestêra quarqué.
Só sei qui na tramunhada,
Tem uma história embruiada
Na saia de uma muié.
 
Patrão, tô véio e cansado,
Arrescordo o meu passado...
Num sô um véio chorão.
Mas fico desmilinguido
Se dentro do meu sentido
Passeia a rescordação.
 
- A sodade é buliçosa.
É renitente. É teimosa,
Num tem acomodação...
Noite e dia trabaiando,
Bulindo, cascaviando,
No baú do coração.
 
Vê minha mãe remendando
Minha rôpa... Fuxicando...
Eu junto dela, no chão
Brincando c’uma boiada
De osso de panelada...
Sodade é isso, patrão!

Sodade é rescordação!
É dô... É satisfação.
É estrepe de mel de abeia,
É luz, qui a gente apagando
Fica pru dentro, queimando
O pavio da candeia.
 
RENATO CALDAS

Nenhum comentário:

Postar um comentário