segunda-feira, 28 de outubro de 2013

DESESPERO DE UMA CRIANÇA ABORTADA

NÃO ME MATE MAMÃEZINHA!

Lhe peço minha mãezinha
Não me tire de seu ventre
Pois já sonho, comovido
Dias de alegria ardente
Com a cabeça em teu colo
E muito amor entre a gente.

Eu posso não ter nascido
Mas tenho um coração
Tenho espírito, incumbido
Para outra encarnação
Lhe rogo, aqui, encolhido,
Mamãe, não me mate não!

Serei em tua velhice
O amparo filial
Será minha meninice
Teu pendor celestial
Quem dera, teu peito ouvisse
O meu pranto sem igual.

Não! pare minha mãezinha
O que estais a fazer?
Nesta clínica mesquinha
Me impedirás de nascer
Oh que triste sorte a minha
Despedaçado morrer.

Te abristes antes da hora
Vejo o instrumento brutal
Que me perfura, e a Senhora
Com anestésico local
Vira o rosto, nesta hora
Da minha angústia fatal.

Já não posso respirar
Teu útero foi perfurado
Em espasmos, a lutar
Sou pela pinça alcançado
Vão meu corpinho arrancar
Porém todo estraçalhado.

Por último, minha cabecinha
Foi pela pinça puxada
Oh que grande dor a minha
Mamãe, como és malvada
A minha vida inteirinha
Numa lixeira é jogada.

Voltarei a ser anjinho
Te perdoo, sei que posso
Tua alma em desalinho
Carcomida de remorso
Pranteará o filhinho
Que Deus quis que fosse vosso.

Eu podia ter nascido
E a senhora me dar
E um casal, enternecido
Poderia me adotar
Eu cresceria esclarecido
Conjugando o verbo amar.

Agora está consumado
Jesus tenha piedade
Deste teu ato pensado
Com egoísmo e maldade
Que um dia será pesado
Na balança da verdade.


Thomas Saldanha

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