domingo, 19 de maio de 2013

MOIANDO U CHÃO DI SUÓ
Na roça é tudo de bão,
mermo as mão cheia de calo!
Premero canto do galo,
já tamo cum pé no chão.
Adispois, café cum pão,
matar de pau o potó,
da istrada comê o pó
do saibro seco da serra,
incher a inxada di terra,
moiando u chão di suó!

Foiá as frô de argudão
i adispois, no mermo imbalo,
arrancá, talo por talo,
dos danido as fiação.
Lambê o sangue das mão
e sê qui nem marajó:
drumi um cuxilo só,
si não a gente si ferra.
Inchê a inxada di terra,
moiando u chão di suó!

Quando o sór for prus oitão,
iscurecendo o intervalo,
nóis nos damus ao regalo
dum banho no boqueirão,
lavando o lombo. I antão,
cantano argum trololó,
vortamo aos nosso xodó,
sabeno qui num si incerra:
Inchê a inxada di terra,
moiando u chão di suó!

Di noite é veis do violão,
as corda assonando o estralo,
bebê cana no gargalo
golento do garrafão.
Tem Chico no acordeão,
tocano, cumele só,
ré. mi, fá, sol, lá, si, dó!
Dança, rede, amô... e a guerra:
inchê a inxada di terra,
moiando u chão di suó!
 
É hora do coração,
batucá qui nem badalo,
como o peito dum cavalo
na hora da adestração.
Meu amô (qui tentação!)
sai da saia de filó,
o gozo ingrossa o gogó
mais a lida num si incerra:
inchê a inxada di terra
moiando u chão di suó!.

Meu xodó, minha paixão,
drome o sono in riba ao chalo.
O meu sono é grosso i malo,
qui nem relampo i truvão.
Mais dispois dessa afrição,
cum canto do xororó
vem o café, pão-de-ló,
i o bom cabrito num berra:
inchê a inxada di terra
moiando u chão di suó!


Odir Milanez 

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