CORDEL DA SECA

PRECISÃO EM CASA DE VAQUEIRO

JOÃO... Ô JOÃO!
FARTA ARROZ, FARTA FARINHA
FARTA BATATA E FEIJÃO
VOCÊ AI SENTADO HOMI
AJEITANDO ESSE GIBÃO
CUIDE LOGO NESSA VIDA
É GRANDE A PRECISÃO

LÁ DENTRO DA COSINHA
ÁS PANELAS TÃO VAZIA
SE AVECHE HOMI DE DEUS
CADÊ O ARMOÇO DO DIA?
OS MENINOS TÃO COM FOME
TUDO DANDO AGONIA

BOTE O PÉ NA ESTRADA
NAS VEREDAS DESSE SERTÃO
A FOME TÁ MUITO BRABA
MATANDO QUE NEM LEÃO
DÓI A BARRIGA E A ALMA
FERINDO O CORAÇÃO

ACHE UMA SOLUÇÃO
PRA NOSSA FOME MATAR
SARVE A NOSSA FAMIA
QUE NÃO PARA DE CHORAR
POR FARTA DO ALIMENTO
QUE DEMORA A CHEGAR

PRU QUÊ PRA MODE VIVER
NESSE TRISTE SOFRIMENTO
É MIOR ARRIBAR DAQUI
ACABANDO ESSE TORMENTO
IR SIMBORA DESSA TERRA
EM BUSCA DE ALIMENTO

A CANTIGA DA CIGARRA
ANUNCIA TEMPOS RUINS
O VAQUEIRO OLHA A BARRA
NÃO CHOVE NESSES CONFINS
NO SERTÃO TA TUDO SECO
SEM FLORES NOS JARDINS

A MATA MUDOU DE COR
DE VERDE FICOU CINZENTA
SOFRENDO CHORA COM DOR
O SERTÃO NÃO AGUENTA
SÓ SE VER NA CAATINGA
TRISTEZA QUE ATORMENTA

 

NÃO CANTA MAIS O CONCRÍS

NÃO SE ALEGRA O SABIÁ

 SERIEMA GRITA DE SEDE

ESPERANDO A CHUVA CHEGAR

TÁ SECO O CACIMBÃO

O AÇUDE VIROU TORRÃO

NAS TERRAS DE NÓS MORAR

 

JÁ FORAM SIMBORA DAQUI
COMPADRE ZÉ E MARIA
DEIXARAM A CASA DE TAIPA
JUNTO COM TODA FAMIA
PRU QUE NÃO AGUENTARAM
A FOME DO DIA A DIA

É TRISTE A VIDA DO VAQUEIRO
QUANDO NÃO CHOVE NO CHÃO
O GADO MORRE DE SEDE
A FAMIA PASSA PRECISÃO
PADECENDO COM A SECA
QUE CASTIGA O SERTÃO

MAIS DEUS DO CÉU ME ESCUTE
SÃO PEDRO TRAGA BENÇÃO
COMPADRE VOU LHE DIZER
NESSA MINHA ORAÇÃO
ESSE ANO VAI CHOVER
AQUI NO NOSSO TORRÃO
CONFIANDO EM SÃO FRANCISCO
E NO PADRE CICERO ROMÃO
QUE SÃO SANTOS DO NORDESTE
JUNTOS MAIS FREI DAMIÃO
TEXTO: JATÃO VAQUEIRO