sábado, 30 de março de 2013

NO MEU TEMPO DE CRIANÇA...






 


















Peço a virgem Maria
Que me traga inspiração
Pra falar do meu tempo
De criança nesse sertão
Onde tudo era alegria
E nós aqui vivia
Humilde de pé no chão

Quando eu era criança
Brincava com um cavalo
Mais não era de verdade
Era aquele feito de talo
Correndo no tabuleiro
Dizia que era vaqueiro 
Com os pés cheios de calo

No terreiro da fazenda
Jogava com um pinhão
Enrolado com uma linha
Arremessava ele no chão
E fazendo estripulia
Puxava a linha e dizia
"Vou aparar agora na mão"

Grande era a boiada
Que eu tinha no curral
Feita de osso de boi
Parecia que era real 
Touro, vaca e bezerro 
Digo e não tem erro 
A raça era semental 

Tomava banho de rio
E jogava capoeira
Tirava areia no porão
Nadava até a barreira
Pescava com landuar
Trairá, curimatã e cará 
E assava na fogueira

Montava em jumento
Dando coice a pular
Correndo no tabuleiro
E peidando pra danar
Só parava quando caia
Chega a poeira cobria
Mais voltava a montar

De carroça eu passeava 
Por veredas do sertão
Na segunda vinha a feira
Comprar meia dúzia de pão 
De bicicleta ainda ia
Visitar uma velha tia 
Na fazenda São João

Tomava leite no curral
Dos peitos da vaca roxa
Separava os bezerros
Das vacas que era moxa
Com um touro me enganei
E veja o que eu ganhei
Um coice bem na coxa

E assim era minha vida
Nas quebradas do sertão
Acordando bem cedo
Pegando o sol com a mão
Do meu tempo de criança
Agora só resta lembrança
E saudades no coração 

Hoje em dia é diferente 
Criança não brinca mais
Com osso de boi e pinhão
Isso ficou pra trás 
Brincam agora de ferrorama 
Gastando uma dinheirama
Tudo pago pelos pais 

É como eu vos digo
Nas linhas desse cordel
Eu era feliz e não sabia
Brincando com barco de papel
Hoje o grande Jatão 
Só ver na televisão
Uma realidade cruel
A marginalização de criança
Que não tem mais esperança
De ser doutor e ter anel. 

                 Texto: Jatão Vaqueiro

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