quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Histórias do Tempo do Cangaço

Jornada Memorável Por:Archimedes Marques

Archimedes Marques contra o Mata Sete, na bela Piranhas
Partindo de Aracaju direto para a cidade de Paulo Afonso no dia 27 de julho de 2012, no intuito de prestigiarmos o lançamento do livro “Centenário de Luiz Gonzaga e a passagem do Rei do Baião em Paulo Afonso” do amigo e escritor João de Sousa Lima, eu e a minha companheira Elane Marques, em noite chuvosa (mesmo com estrada ruim no lado alagoano) chegamos ao destino. Naquela noite, além do lançamento do livro, o município de Paulo Afonso prestava homenagem ao grande e inesquecível Luiz Gonzaga, homenagem esta que se estendeu por mais alguns dias naquela cidade baiana que tanto encanta a todos, entretanto, o nosso objetivo, era também prestigiarmos no dia seguinte o lançamento do livro “Maria do Sertão” do amigo Alcino Alves Costa, em Poço Redondo, depois de visitarmos a cidade de Piranhas nas Alagoas e de lá em navegação pelo caudaloso “Velho Chico” irmos para a grota de Angico nas terras de Sergipe, mais de perto, para assistirmos mais uma vez a famosa missa campal do cangaço rezada pelas almas dos cangaceiros mortos em 28 de julho de 1938, dentre os quais, Lampião e Maria Bonita, além do soldado Adrião, em suposto combate com a tropa volante do Tenente Bezerra que praticamente pôs fim a era cangaceira no nosso querido chão nordestino.
"Altar das Cabeças" nas escadarias da Prefeitura de Piranhas em 1938
Em rápidas pinceladas, é bom lembrar que Piranhas ficou nacionalmente e até internacionalmente conhecida por ser a cidade onde as cabeças de Lampião, da sua amada Maria Bonita e de mais nove cangaceiros ficaram expostas após decapitação feita na grota de Angico em Sergipe pela polícia volante comandada pelo então Tenente Bezerra da força alagoana no dia 28 de julho de 1938. Em Piranhas também foi rodado o filme Baile Perfumado, com o mesmo tema do cangaço e que retrata principalmente a trajetória do libanês Benjamim Abrahão Botto, responsável pelo registro iconográfico do cangaço, sendo a única pessoa a filmar ações do bando de Lampião. No museu da cidade pode ainda ser visto, dentre outros petrechos do cangaço, várias fotos do famoso bandido Lampião e seus asseclas, inclusive a famosa foto que mostra o empilhamento das cabeças na escadaria da prefeitura do município que terminou correndo o mundo.

Inacinha e Gato

Piranhas também foi palco do combate que pôs fim a trajetória bandida do sanguinário cangaceiro Gato. Sabedor que a sua companheira Inacinha tinha sido presa pela polícia e conduzida para a sede da cidade, Gato que era chefe de um dos subgrupos de Lampião procurou ajuda e induziu Corisco, outro grande chefe de cangaceiros, a atacar Piranhas. Entretanto, usando da sua experiência e até sensatez, Corisco achou a ação muito perigosa, vez que, além de tudo a cidade era sede de polícia volante. 

Desesperado e alucinado de ódio Gato não ponderou, não viu a razão, não quis ouvir as advertências do amigo, agindo somente pela emoção, e assim disse que partiria de qualquer jeito para a ação de resgate a sua querida Inacinha. Corisco, por sua vez, em solidariedade ao amigo e para não se sentir um covarde acabou aceitando a empreitada. O momento não era propício, e com isso Lampião, ao saber dessa desastrada ação, não gostou nem pouco, porque sabia muito bem de todos os riscos que os seus amigos comandados iriam correr, mas já era tarde, não havia mais como impedi-los, não havia mais tempo de convencer Gato que ele estava errado. Assim, no dia 28 de setembro de 1936, os dois grupos partiram para o resgate. Gato também tinha como plano estratégico sequestrar a esposa do sargento João Bezerra que residia em Piranhas para posteriormente fazer uma troca com Inacinha.

No caminho por onde passava os 16 cangaceiros que participaram do embate, onze pessoas foram mortas a tiros, punhaladas e golpes de facão, fazendo mais duas vítimas no combate propriamente dito dentro da cidade de Piranhas. Na reação do povo piranhense junto com o contingente policial Gato levou um tiro que atingiu a sua coluna vertebral, ficando momentaneamente paralisado da cintura para baixo. Vendo o poder de fogo contrário, sem qualquer esperança de sucesso, os cangaceiros recuaram e fugiram levando Gato, que não resistindo ao grave ferimento, faleceu três dias depois em prova que de tudo Corisco estava certo. Fora de fato uma ação suicida.
cariricangaco.blogspot.com.br

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