A neta do cordelista, Andressa Saldanha ressaltou que a família quer deixar bem claro que o poeta está descansando, mas a poesia dele continua viva. O velório de Zé Saldanha aconteceu a partir do fim da tarde desta terça-feira no centro de velório do Morada da Paz, em Emaús. O poeta será sepultado às 11h desta quarta-feira. Amigos, familiares e admiradores do trabalho de Zé Saldanha levarão suas poesias e prestarão as homenagens.
José Saldanha de Menezes Sobrinho nasceu em 23 de fevereiro de 1918 na fazenda Piató, em Santana do Matos. Naquele início de século os tempos eram de coronelismo, beatos, rendeiras e cangaceiros. Nos sertões místicos do Nordeste, viveu entre cantadores e cordéis que retratavam não apenas a vida dura do sertanejo, mas também os horizontes de beleza e brabeza de homens do Sertão.
CABOCO NA IGREJA
Fui à igreja, seu moçoMas não gostei dela não,
É casa de munta gente
Só tem munta é confusão,
Briguei lá com um vorais
Achei pesado demais
A tá de religião.
Um amigo me pediu, seu moço!
Que eu fosse a igreja um dia,
Eu disse que de igreja
Nada dela eu sabia,
Ele disse pra eu fazer
Tudo qui o povo fazia.
Eu chamava ele de amigo, seu moço!
Mais era meu inimigo,
Me mandar prum lugar daquele
Preu levá tanto castigo,
Ele me mandou afim
Pra depois ri di mim
Do que houvesse comigo.
Confiei nele, seu moço
Fiz o qui o povo fazia,
Porém num deu certo não
Meu amigo era um tapia,
Vi o povo se ajueiando
Eu fui me aprochegando
Fazendo tudo qui via.
Um padão lá no artá, seu moço
Disse umas coisa qui tem,
As muié cubriro a cabeça
Se ajueiaro também,
Sem pano eu fiquei sem graça
Me irguei, tirei as carça
E cubri a cara também.
Uma muié disse: Olhi o doido!
E catucou a ota assim,
Eu também catuquei ota
Qui tinha perto de mim,
E dissi: Olhi um doido!
Ai começou um ingodo
Qui quase num tem mais fim.
Um cabra me deu um murro, seu moço!
Cabra de braço pesado,
Eu danei o murro noto
Qui vi o pé intrançado,
Ai danou-se o pagote
Eu sozinho pra um magote
Pra fazê tudo acertado.
Dei dimais e apanhei, seu moço!
Lá naquela confusão,
Um cabra me derrubava
Eu butava oto no chão,
Um curria, eu curri atrás
Achei pesado demais
A ta de religião.
Inda o danado do pade, seu moço!
Me chamou de inconciente,
Achou que eu tava errado
No meio de tanta gente,
Preu fazê tudo qui via
E aprendê tudo num dia
Num tem diabo qui aguente.
Aquele caboco de saia, seu moço!
Num é caboco bem séro,
Mustô os dois braço dizendo
Aqui só faz o que eu quero,
Se eu fosse falá com ele
Eu rasgava a saia dele
Pra vê qua é o mistério.
Ele me chamou de errado, seu moço
Chamou até de sujeito,
Tanto esfoço qui fiz
E ele num achou bem feito,
A ta de religião
Num dá pá caboco não
Nunca se aprende direito.
É mio caçá tatu, seu moço
Apanhá da caipora,
Pisá im rabo de cobra
Brigá com onça na hora,
De que visitá igreja
Qui casinha malfazeja
Essa qui conhici agora...
AUTOR: José Saldanha Menezes Sobrinho ( Zé Saldanha) – nascido em 23 de fevereiro de 1918, aos 93 anos, era atualmente o Cordelista mais velho do Rio Grande do Norte e faleceu nessa terça feira.
Da redação do DIARIODENATAL.COM.BR
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