quinta-feira, 5 de maio de 2011

A peleja do sertanejo para cuidar do roçado
O sertanejo se enche de alegria
Quando chega a chuva no sertão
Corre logo pro roçado
Capina com muita animação
Espera ter muita fartura
Com a sua nova plantação

Trabalha de sol a sol
E o serviço não é moleza
Mas ele é corajoso
Não tem medo de dureza
Pois vida dura ele já tem
Em sua eterna pobreza

Para preparar a terra
Primeiro ele vai brocar
Depois dessa fase
Vem a vez de queimar
E depois da queimada
Ainda tem que destocar

Enquanto ele trabalha
Pensa com animação
Esperando bom resultado
Em sua nova plantação
E pede a Deus pra ajudar
Com muita devoção

Depois de tudo pronto
Chega a hora de plantar
Ele vai cavando as covinhas
Para as sementes enterrar
E com fé em Deus
Nenhuma delas vai falhar

Ele planta de tudo um pouco
Milho, feijão e macaxeira
Tem também o maxixe
Que é planta muito ligeira
Não pode faltar o jerimum
Pra depois vender na feira

Depois de alguns dias
Tudo está nascido
O milho já brotou
O feijão está sabido
E o pau de macaxeira
Já tem o olho exibido

A plantação ta bonita
E se a chuva não falhar
A fartura é certa
Comida não vai faltar
Pode até sobrar um pouco
Pra na feira negociar

Depois dessa fase
Vem a hora de limpar
Pro mato não crescer
E o legume se animar
Puxando terra pras covas
Pra planta desarnar

Nessa primeira limpa
Ele vai observando
Se a plantação ta completa
Se não tem nada faltando
E aonde está falhado
Vai logo replantando

Pelas falhas ele sabe
O que foi que aconteceu
Se foi a formiga que cortou
Ou a galinha que comeu
E vai tomando providências
Pra recuperar o que perdeu

Bota veneno no formigueiro
Pra resolver o problema
Pra se livrar das galinhas
Ele usa outro esquema
Bota mais arame na cerca
E está resolvido o dilema

Passada essa etapa
Com tudo replantado
A chuva vai caindo
Deixando o terreno molhado
E o mato que foi limpo
Já está todo renovado

O jeito é limpar de novo
Mais uma vez capinar
Esperando um dia de sol
Para o mato secar
Mas continua chovendo
E o mato torna a renovar

E assim segue a peleja
Ele continua capinando
A chuva sempre caindo
E o mato renovando
E o pobre sertanejo
Vai aos poucos desanimando

A plantação vai ficando eia
O feijão amarelando
A terra se resfria
O terreno vai brejando
E o medo de perder tudo
Vem logo se chegando

São Pedro dá uma trégua
O sol volta a brilhar
O sertanejo se anima
E vai logo capinar
Agora o mato morre
E o legume vai levantar

E estiagem demora muito
A terra começa a esquentar
Aparece logo a lagarta
Para as plantas devorar
O sertanejo vendo a praga
Volta a desanimar

Mas ele é homem de fé
Espera em Deus a solução
Se a chuva voltar logo
Ainda tem salvação
As lagartas morrem todas
E está salva a plantação

Quem tem fé em Deus
Passa por muita prova
A chuva volta a cair
E a plantação se renova
E o alegre sertanejo
Cria logo alma nova

Ele examina o roçado
Com o seu jeito sereno
Analisando a situação
O prejuízo foi pequeno
A plantação está salva
Nem precisou de veneno

Agora é cuidar do que foi salvo
Com coragem e dedicação
Pois dando mais uma limpa
Está pronta a plantação
Para esperar uma boa safra
De milho, jerimum e feijão

Quando chega a colheita
Com alegria e satisfação
Aos amigos ele faz agrado
Com milho verde e feijão
Dá também o maxixe
Pra temperar o baião

E assim quem não planta
Come igual a quem plantou
Sem sequer imaginar
A peleja que ele enfrentou
E pro pobre sertanejo
Pouca coisa lhe restou
Por Augusto Secundino 

*Artesão, cordelista e amante da cultura popular e cearense.

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