quinta-feira, 19 de maio de 2011

Briga ruim e briga boa         


Em briga não se evita
A ponta de uma peixeira
Ou se estribucha no chão
Ou dispara na carreira

Briga feia é a de foice
Arranca rabo e decepa
Não fica um cristão inteiro
Todo ele se estrepa

Briga danada é de mulher
Arrepia só de ver
Não fica um cabelo em pé
Na hora do trelelê

Briga de menino é futrica
De zoeira sem tamanho
É ensaio de marica
Numa roda de estranhos

Briga feia é no escuro
Que não se vê o estrago
É feito mesa de jogo
Que não se acha o baralho

Só se vê o alvoroço
O tropeço do povão
Chora menino e mulher
O rapaz e o homenzarão

Grita um por Jesus Cristo
Outro por Maria José
Um pula a janela
Outro faz finca pé

A faca trinca no muro
O facão no rodapé
O punhá corre solto
É um  salve-se quem puder

No final da tranqueira
Sobra tripa no salão
Sangue na cumeeira
Corpo estendido no chão

O velho se benze num canto
A mulher enxuga o nariz
Tem cara de espanto
Quem escapou foi por um triz

A sanfona desabou
No recanto da saleta
A zabumba se furou
ninguém mais viu a corneta

O sanfoneiro suspira
O zabumbeiro se treme
A comadre já se vira
E o povo não se espreme

É por isso que se deve
Defender a briga boa
Pois aquele que se atreve
Ganha a briga numa loa

Briga boa é aquela
Que a gente se lambuza
Aquela que a raiva passa
E o ódio não abusa

Brida boa é rolar no mato
Como o cio dos pardais
Naquela hora que todos
Se revelam animais

Essa é a briga que quero
Defender com muito gosto
É a briga do amasso
Do carinho e do arrocho.
                                               Por João de Lila 

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