Luiz Gonzaga e Lampião Por:Arievaldo Viana
Ilustrações: Rafael Lima Verda
A
figura lendária de Lampião fascinava Luiz Gonzaga desde a infância. Em
meados da década de 1920, quando o Rei do Cangaço passou com seu bando
pela Serra do Araripe rumo a Juazeiro do Norte, o futuro Rei do Baião
desejou ardentemente conhecer o temível bandoleiro e, quem sabe, tocar
algumas músicas para a cabroeira dançar. O velho Januário, mais sensato e
comedido, resolveu ouvir os apelos de Santana e foi se refugiar no mato
com a família, com medo dos cangaceiros. Outras famílias fizeram o
mesmo.
Se
estabeleceram sob uns pés de oiticica, fizeram um foguinho de trempe
para cozinhar o feijão e esquentar o café, enquanto as coisas se
acalmassem. O que aconteceu a seguir, eu descrevo em cordel, trechos de
um livro que acabo de lançar pela coleção “Do Nordeste para o mundo”,
coordenada por Arlene Holanda, intitulado “Luiz Gonzaga, o embaixador do
sertão”. A obra, vencedora de um prêmio literário promovido pela
Secult, acaba de ser lançada pela Editora Íris.
O EMBAIXADOR DO SERTÃO (trechos)
Certa feita Lampião
Passou lá no povoado
O povo da região
Ficou muito apavorado,
Seguia pra Juazeiro
O cangaceiro afamado.
As famílias se esconderam
Com medo de Lampião
Januário e sua gente
Arrumaram o matulão
E foram se esconder
Sob um pé de “sombrião”.
Passados então dois dias
O Gonzaga disse assim
Eu vou lá no povoado
Ver se a coisa está ruim
Eu vou e volto escondido
Podem confiar em mim.
Nisto o velho Januário
Que admirava a coragem
Lhe disse: – Vá com cuidado
Pela margem da rodagem
Observe o movimento
E faça breve viagem.
Luiz foi, observou,
Lampião tinha saído,
Ele que era travesso
Um molequinho enxerido
Um molequinho enxerido
Voltou em grande carreira
Fazendo um grande alarido:
- Corre gente! Corre tudo
Que Lampião vem chegando!!!
Com mais de cinqüenta cabras
Já vem se aproximando!
Foi enorme a correria
E a meninada chorando.
A rir dessa confusão
Gonzaga então começou;
Mas o velho Januário
Daquilo desconfiou
E devido a brincadeira
Um castigo ele levou.
Foi
uma surra e tanto, conforme o próprio Gonzaga declarou mais tarde ao
escritor Sinval Sá, autor de “O sanfoneiro do Riacho da Brígida”, a
primeira biografia do ‘Lua’, publicada em Fortaleza em 1966.
A
roupa dos cangaceiros, aqueles chapéus de couro vistosos, cheios de
medalhas e penduricalhos era o que mais fascinava o menino Gonzaga. Por
isso, depois de consolidar sua música e projetar-se em todo o Brasil,
Luiz Gonzaga cismou de se apresentar na Rádio Nacional vestido de
cangaceiro, o que lhe valeu uma séria advertência do diretor Floriano
Faissal. Advertência não, proibição sumária.
Mas
Gonzaga era teimoso e continuou usando o seu chapéu de cangaceiro nas
capas dos discos, nas fotos promocionais e em tudo que era show onde se
apresentava. Sua persistência prevaleceu e o figurino incorporado por
ele passou a ser imitado por quase todos os cantores do gênero que
surgiram nas décadas de 1950 a 1970.
Arievaldo Viana
Texto publicado na revista Nordeste Vinteum
Via: cariri cangaço
Nenhum comentário:
Postar um comentário