O Jumento da Prefeitura
Olá minha gente.
Espero que vocês se encontrem com saúde.
Porque eu também estou. O ar puro que o mato oferece é melhor e muito do que as baforadas de poluição da cidade. Quem quiser ter saúde, venha aqui pra o sertão, respirar o ar fresco, sentir o cheiro de bosta de vaca, beber o leite trazido do curral, quentinho...
Mais uma vez, passando aqui pela roça do meu confrade Sertanejo, não resisti em contar mais uma das histórias da minha Riacho das Éguas.
Espero que vocês se encontrem com saúde.
Porque eu também estou. O ar puro que o mato oferece é melhor e muito do que as baforadas de poluição da cidade. Quem quiser ter saúde, venha aqui pra o sertão, respirar o ar fresco, sentir o cheiro de bosta de vaca, beber o leite trazido do curral, quentinho...
Mais uma vez, passando aqui pela roça do meu confrade Sertanejo, não resisti em contar mais uma das histórias da minha Riacho das Éguas.
O Jumento da Prefeitura
Isso aconteceu lá por volta dos anos oitenta. Riacho das Éguas nem sabia o diacho era carro, nessa vida. Foi também um tempo agoniado. Uma seca lascada. Um prefeito que teve lá, para fazer bonito com seus eleitores, pois já se aproximava de tempo de eleição de novo, decidiu fazer uma coisa que, pra ele era a ideia mais extraordinária do mundo. Resolveu contratar um jumento que ficaria a disposição dos cidadãos de Riacho das Éguas, como se fosse um carro, pra servir de veículo pra os que precisassem de um deslocamento urgente. Primeiro passo foi percorrer o vilarejo atrás de um animal que fosse, além de forçudo e bem apresentável, também apresentasse uma certa inteligência, pois o cargo exigia perícia, destreza e sabedoria.
Isso aconteceu lá por volta dos anos oitenta. Riacho das Éguas nem sabia o diacho era carro, nessa vida. Foi também um tempo agoniado. Uma seca lascada. Um prefeito que teve lá, para fazer bonito com seus eleitores, pois já se aproximava de tempo de eleição de novo, decidiu fazer uma coisa que, pra ele era a ideia mais extraordinária do mundo. Resolveu contratar um jumento que ficaria a disposição dos cidadãos de Riacho das Éguas, como se fosse um carro, pra servir de veículo pra os que precisassem de um deslocamento urgente. Primeiro passo foi percorrer o vilarejo atrás de um animal que fosse, além de forçudo e bem apresentável, também apresentasse uma certa inteligência, pois o cargo exigia perícia, destreza e sabedoria.
O pior é que, de tanto procurar, achou. No nosso lugar tinha um jumento, que, de tanto viajar com seu dono para as cidades e estados carregando as mercadorias desse almocreve, Seu Luduvino, também foi adquirindo sabedoria na matemática, no português, na geografia, e chegava ao ponto, as vezes do jumento saber mais conta dos dinheiros do dono do que o próprio homem.
Não teve outra. Foi contratado na mesma hora. Em uma semana, feliz com o emprego do seu jumento, o homem, que não queria mais ser almocreve e levar e trazer mercadorias, pra cima e pra baixo, já queria carteira assinada. Lá se vai o prefeito fichar o jumento. Agora o jumento, que antes trabalhava de domingo a domingo, resolveu que precisava de pelo menos um dia de folga. Aí ficou sendo o domingo, como a maioria dos outros funcionários da prefeitura. Mas ainda, pra não perder o costume, aumentavam sua carga-horária no sábado. Era um cargo muito importante, essencial. Necessitava de horas extras.
Aí, reparem bem. Todo santo dia era aquele negócio. O jumento era solicitado por todo mundo do lugar. Uns queria que o transporte da prefeitura os levasse para os afazeres da roça, outros montavam para irem a um forró, outros, às vezes até dois de uma vez, se sentavam no jumento e pediam pra ele lavar pra lua de mel em alguma roça vizinha. E o jumento não tinha descanso.
As cenas se repetiam...
_Seu Luduvino... Mãe mandou dizer que é pra o jumento ir pegar ela lá na feira, meio dia em ponto.
Ou então:
_Cumpade Luduvino, vamos com o transporte pra levar minha muié lá na partêra, pá modi tê um fío, que ela já ta quais parino...
Certo dia, já cansado dessa labuta, o jumento decidiu fazer manha com os passageiros. Foram reclamar ao prefeito que o transporte estava quebrado ou com defeito. O prefeito deu uma reformada na cela, nas correias, comprou estribo novo, mandou dar um banho no veículo, dar um trato, comprou capim e milho novo e, para que o bichinho se alegrasse, aumentou o salário. Mas não teve jeito. O coitado do dono, o Luduvino, que era o motorista do seu jumento até tentou remediar, diminuindo as cargas, passageiros e viagens do pobre do funcionário. O caso era sério. O jumento já tava esgotado. Queria a aposentadoria da prefeitura, mas não queriam lhe dar.
Até que um dia, revoltado com o prefeito seu patrão, que não o queria entender, o jumento, inteligente como a peste, desamarrou-se de uma quixabeira em que estava, abriu a cancela de seu curral e ganhou o mundo. Até hoje o povo de Riacho das Éguas não sabe o paradeiro daquele jumento. O coitado do dono até que tentou assumir seu lugar, para não perder o cargo na prefeitura, mas não aguentou o rojão. E também, já sendo tempo da modernidade chegar, logo logo o prefeito comprou um veículo à gasolina, pra ajudar o povo. Depois que o povo acostumou com aquilo e entendeu que não era coisa do outro mundo, foi aquela felicidade. A Rural nova zerada não fazia manha de jeito nenhum.
Não teve outra. Foi contratado na mesma hora. Em uma semana, feliz com o emprego do seu jumento, o homem, que não queria mais ser almocreve e levar e trazer mercadorias, pra cima e pra baixo, já queria carteira assinada. Lá se vai o prefeito fichar o jumento. Agora o jumento, que antes trabalhava de domingo a domingo, resolveu que precisava de pelo menos um dia de folga. Aí ficou sendo o domingo, como a maioria dos outros funcionários da prefeitura. Mas ainda, pra não perder o costume, aumentavam sua carga-horária no sábado. Era um cargo muito importante, essencial. Necessitava de horas extras.
Aí, reparem bem. Todo santo dia era aquele negócio. O jumento era solicitado por todo mundo do lugar. Uns queria que o transporte da prefeitura os levasse para os afazeres da roça, outros montavam para irem a um forró, outros, às vezes até dois de uma vez, se sentavam no jumento e pediam pra ele lavar pra lua de mel em alguma roça vizinha. E o jumento não tinha descanso.
As cenas se repetiam...
_Seu Luduvino... Mãe mandou dizer que é pra o jumento ir pegar ela lá na feira, meio dia em ponto.
Ou então:
_Cumpade Luduvino, vamos com o transporte pra levar minha muié lá na partêra, pá modi tê um fío, que ela já ta quais parino...
Certo dia, já cansado dessa labuta, o jumento decidiu fazer manha com os passageiros. Foram reclamar ao prefeito que o transporte estava quebrado ou com defeito. O prefeito deu uma reformada na cela, nas correias, comprou estribo novo, mandou dar um banho no veículo, dar um trato, comprou capim e milho novo e, para que o bichinho se alegrasse, aumentou o salário. Mas não teve jeito. O coitado do dono, o Luduvino, que era o motorista do seu jumento até tentou remediar, diminuindo as cargas, passageiros e viagens do pobre do funcionário. O caso era sério. O jumento já tava esgotado. Queria a aposentadoria da prefeitura, mas não queriam lhe dar.
Até que um dia, revoltado com o prefeito seu patrão, que não o queria entender, o jumento, inteligente como a peste, desamarrou-se de uma quixabeira em que estava, abriu a cancela de seu curral e ganhou o mundo. Até hoje o povo de Riacho das Éguas não sabe o paradeiro daquele jumento. O coitado do dono até que tentou assumir seu lugar, para não perder o cargo na prefeitura, mas não aguentou o rojão. E também, já sendo tempo da modernidade chegar, logo logo o prefeito comprou um veículo à gasolina, pra ajudar o povo. Depois que o povo acostumou com aquilo e entendeu que não era coisa do outro mundo, foi aquela felicidade. A Rural nova zerada não fazia manha de jeito nenhum.
Fonte: www.conversasdosertao.com
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