segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

NO MEU SERTÃO TEM DE TUDO

Um travesti no sertão

por Zé Ceará
No sertão tem muié bela
cabra que usa facão
os home vão pro roçado
as muié vão pro fogão

No sertão a bala avoa
na latada do forró
e o home que num namora
os cabra manda ir embora
procurá outro xodó

No sertão o cabra é macho
e a muié feminina
num tem esse cambalacho
de home cum a voz fina

Mas num dia de sol quente
casamento de Rosinha
apareceu o diacho
na forma duma bichinha

Parecida cum a Xuxa
num vistido cor lilás
a paquita do Exú
que redimiu Satanás

A dama, além de formosa
era bizarra e faceira
dançava rodando a saia
em torno duma fogueira

Foi pro lado de Juvino
toda dançando, ligeira
no coitado do matuto
bateu logo a tremedeira

Depois dançou com Calixto,
Zé Bento, Joca e Mané
dançou inté cum Tonico
que era aleijado dum pé

O coroné Virgulino
quando viu se apaixonô
botou logo o mió terno
e todo se embonecou

Entrou todo satisfeito
na latada do forró
foi dançá cum a danada
que as perna dava um nó

Quando acabô o forró
levou a danada embora
apregada a tiracolo
num via chegá a hora

Deitaram logo na cama
e começou o xodó
era o maior rela buxo
por debaixo dos lençó

Jogou fora o paletó
ela atirou o vistido
e disse: mais devagar
somente quando casar
eu dou o meu perseguido

O coroné foi descendo
ela obrigou a brecá
só libero a bacurinha
quando o padre autorizar

Ele de tanto tentar
já tava desconfiado
que butija escondida
que bombom mais embruiado

O coroné tava doido
depois de tanta esfregada
deu um puxão na tanguinha
deixou a muié pelada

Preparô prá dar o bote
vou devorar essa prêza
mas parou, estatelado
cum aquela malvadeza

Invés da filicidade
que a noite prometeu
o negócio da comadre
era maior qui o seu

Ao invés da tênue relva
de leve e pura beleza
tava deitado cum macho
na maió das safadeza

Puxou logo da peixeira
começou a fumaçá
te cuida cabra safado
agora o pau vai cantá

Ela disse: Coroné
os tempo tão diferente
esquece os teus preconceito
e vamo tocá prá frente

Coroné jogou a faca
sartou fora o capeta
o diabo é quem fica aqui
o Coroné é careta

O macho-e-fêmea escapou
corria que só jumento
tão querendo me aleijar
tirar os meus documento

Vou me embora prá cidade
num vorto mais pro sertão
aqui a prosa é concreta
num tem adivinhação

Prás cabôca bem faceira
tem festa, amor e baião
mas pros cabra afeminado
vestindo saia e tarado
só foice, bala e facão.

--FIM--

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