sexta-feira, 25 de julho de 2014

CORDEL

LAMENTO DU SERTANEJO
Vim aqui pra capitá
truxe a famía intera
módi a vida miorá
eu travessei a frontêra.
Sô caipira du sertão
peguei a mala no chão
e uns trocado n’algibêra.

Minha jornada sufrida
pensei que fosse cabá.
Nunca foi fáci a vida
cum a seca a amiaçá.
Morreu minha prantação,
só tinha judiação
naquele belo lugá.

Dos dez fio qui Deus me deu,
a morte tava à ispreita.
Dois de infequição morreu,
us ôtro trêis, de maleita.
Ôji mi resta só cinco
qui eu proteju cum afinco,
sinão a morte apruveita.

Cheguei na grande cidadi
cheinho di isperança.
-Nessa grandiosidadi
vô inducá as criança.
Mai eu pensei munto cedo...
Memo forti sem tê medo,
minha fé, as veiz balança.

Nessa cidade celeste
faiz é tempo qui nun chove.
Pareci inté o agreste
dondi eu parti (dia nove).
Imprego eu num arranjei.
Eu num sô fora da lei,
tem nada qui mi reprovi.

Vô pegá minha famía
e vortá lá pro sertão.
Si Deus quizé, a aligria
vai vortá nu coração.
As chuva há di vortá
us gado hei di sarvá
e tomêm a prantação.
(Milla Pereira)

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