quarta-feira, 5 de junho de 2013

GALO GARNIZÈ

 
Arrepare meu padim
No que agora vou falar
Cum a licença de Jesus
Santo la do artá
Da ingreja de Munguengue
Vosmicçê num sá repende
Mode agora mim iscuitar

Falo do quilarear do dia
Aqui no meu sertão
Do cagar dos pintos
Sol arribando do chão
Canta logo o garnizé
Antes mermo do café
Oooou galo véi bão

Garnizé é pequeno
Mais dono do terreiro
Baxim e nojento
Canta lá do poleiro
Mode logo avisar
Que só pode cantar
Ele nesse tabuleiro

O galo é arretado
Bota orde nas galinha
Manda no chiqueiro
Da patroa e da vizinha
Inda corre atrás de menino
Cuma cachorro latino
Inté a porta da cozinha

Ai eu dixe assim
"Maria rumbora matar
O galo garnizé
Mode nós armunçar
Ou vai ter confusão
Com nosso vizinho jão
Garnizé ta sempre lá"

Maria me arrespondeu
Cum oiar de cobra morta
"Mais jatão num faça isso
Amarre ele na vara torta"
Eu dixe logo a muier
"Maria o galo garnizé
Tá cumendo toda horta"

Maria mermo cum dó
Me dixe bem assim
"Pois rumbora jatão
Matar o coitadim"
Peguei mii no cassuar
Ele vei depressa biliscar
E eu peguei o danadim

Mais padim vou contar
O que me assucedeu
O peste do garnizé
O bico meteu neu
Ainda prantoule o esporão
Na palma da minha mão
Que a garapa desceu

Eu dixe "isso foi uma tinha
Botada por Thiago Bento
Um camarada meu
Que tinha um intento
De comer galo guizado
E garnizé foi quage robado
Numa noite de chuva e vento"

Eu não me confoimei
Com a ta situação
Peguei o galo garnizé
Cortei ligeiro o esporão
E sortei no terreiro
Esse galo traiçoeiro
Que quaje arracou minha mão

NA VERDADE COMPADRE
QUERO AQUI LEMBRAR
ISSO É SÓ UMA HOMENAGEM
A UM SÍMBOLO DO MEU LUGAR
O GALO QUE ANUNCIA
O AMANHECER DO DIA
E O SOL QUE VAI RAIAR
JAMAIS ARRANCARIA O ESPORÃO
DE UM GALO DO SERTÃO
PARA ELE PARAR DE CANTAR

                     Texto: Jatão Vaqueiro

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