Cangaço » Jesuíno Brilhante na Serra do Martins
Serra do Martins, de Raimundo Damasceno (1998) |
A
cidade de Martins está localizada no alto da serra de mesmo nome, com 745
metros de altitude, no sertão do médio-oeste do Rio Grande do Norte, distante
377 km da capital. Constitui-se num dos principais sítios de Memória do cangaço
de Jesuíno Brilhante (1844-79) e compõe o circuito turístico, denominado
"serras potiguares".
Serra
do Patu vista de Martins
|
Do
alto da Serra do Martins se pode avistar a Serra do Patu, terra natal do
cangaceiro Jesuíno Brilhante, que no ano de 1876, invadiu a cidade, num
episódio que ficou conhecido como "O Fogo de Imperatriz", que também
imortalizou a música "Corujinha".
"Corujinha"
Corujinha,
que anda na rua,
Não
anda de dia,
Só
anda de noite
Às
Ave Maria.
Isso
é bom, corujinha
Isso
é bom...
Banana
madura
Comida
no cacho,
Isso
é bom, corujinha,
Banana
madura
Comida
no cacho.
Isso
é bom, corujinha
Isso
é bom...
Corujinha,
que vida é tua
Bebendo
cachaça
Caindo
na rua
Isso
é bom, corujinha
Isso
é bom...
Cancioneta
de domínio popular, cantarolada pelo bando de Jesuíno Brilhante.
Continue lendo em mais informações:
Com
o intuito de raptar e assassinar seu arquiinimigo, Amaro Limão, que estava
preso na cadeia pública de "Imperatriz" (hoje Martins) e resgatar uma
moça "depositada" na casa do cidadão Porfírio Leite, Jesuíno e seu
bando invadiram a cidade e foram cercados pela polícia, conseguindo escapar
após arrombar as paredes de uma casa a outra e cantarolar a música
"Corujinha" para despistar a volante. Este episódio ficou registrado
na literatura do cangaço e num processo judicial da comarca como "O Fogo
de Imperatriz".
Museu de Martins (1871) |
Instalado
numa construção arquitetônica datada de 1871, o museu da cidade de Martins é
testemunha de parte da história que se remonta ao período do cangaço de Jesuíno
Brilhante.
Banner do centenário de Raimundo Nonato |
O
principal biógrafo do cangaceiro Jesuíno Brilhante é natural da cidade de
Martins. O escritor Raimundo Nonato, autor de "Jesuíno Brilhante, o
Cangaceiro Romântico", editado pela Pongetti, do Rio de Janeiro/RJ, em
1970, nascido em 1907 e falecido em 1993, teve seu centenário comemorado,
festivamente, na cidade no ano de 2007.
Entrada
da Biblioteca do Hotel Serrano
|
A biblioteca do Hotel Serrano alberga considerável acervo, onde se pode
encontrar obras da coleção "Mossoroense" e a maior parte das obras do
professor Raimundo Nonato. "Uma Nota sobre o Quebra-quilos da Parahyba do
Norte", do tribuno Almino Álvares Afonso, está entre as publicações
encontradas neste espaço cultural.
Raro
livro de Almino Afonso
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"Uma
Nota sobre o Quebra-quilos da Paraíba do Norte", do jurista Almino Afonso,
foi publicada originalmente em 1875 e reeditada em 2002. Almino Álvares Afonso
foi um dos intelectuais que atuaram na linha de frente ao enfrentamento do
cangaço de Jesuíno Brilhante, e nesta obra se reporta a aliança do coronel João
Dantas com o cangaceiro Jesuíno Brilhante para resgatar seu irmão Lucas num
episódio que ficou conhecido como "saque a cadeia pública de
Pombal/PB", em 1874.
Igreja
Matriz e Praça Almino Afonso
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A
bela praça ao lado da igreja matriz da "Campos do Jordão do Rio Grande do
Norte" homenageia o tribuno abolicionista Almino Afonso, que segundo o
escritor Cleilson Carlos, baseado em entrevistas com descendentes, sua migração
do sertão pode estar relacionada a desdobramentos do fenômeno social do cangaço
de Jesuíno Brilhante.
Escritores
Cleilson Carlos Epitácio Andrade
|
Em
"A Saga dos Limões - Negritude no Enfrentamento ao Cangaço de Jesuíno
Brilhante", informa-se que o coronel João Dantas de Oliveira tornou
desafeto de Jesuíno Brilhante depois da recusa da empreita para o assassinato
do jornalista Juvêncio Vulpis alba, denunciante em artigo publicado no Jornal
de Pernambuco, da trama que culminou com o saque a cadeia pública de Pombal.
Serra
dos 3 cabeços vista de Martins
|
Do
alto da Serra do Martins se avista a Serra dos Três Cabeços, localizada no
município de Almino Afonso, que também homenageia o político abolicionista e
articulista de enfrentamentos ao cangaço de Jesuíno Brilhante. Na sua
"Nota sobre o Quebra-quilos", Almino Afonso apresenta o coronel João
Dantas como um dos protagonistas da revolta no sertão. Esclarecida a sua
participação no saque a cadeia de Pombal, o coronel João Dantas migrou para
Patu, onde se aliou ao clã dos "Limões" para o conflito com os
"Brilhantes" e para espalhar a Insurreição dos Quebra-quilos pelo
oeste potiguar a partir de Patu, chegando a Barriguda (Hoje Alexandria),
Vitória (Atual Marcelino Vieira, onde também se deu o início da resistência a
Lampião nas terras potiguares, em 1927), Luiz Gomes (lugar onde permaneceu a
maior parte dos remanescentes da família Limão) e Apodi (Mais antiga localidade
do sertão potiguar, a "Aldeia de São João do Apodi dos Tapuias
Paiacus").
Índia
Tapuia, escultura de Aucides Sales
|
No
dia 20 de julho de 1736, Aleixo Teixeira, capitão-mor da Aldeia de São João do
Apodi dos Tapuias Paiacus, recebeu a carta de data da sesmaria de terras no
alto da serra conhecida como Serra do Campo Grande, posteriormente conhecida
como Serra da Conceição. Esta passagem que antecedeu o cangaço de Jesuíno
Brilhante em mais de 150 anos, ficou seguida da chamada "Guerra dos
Bárbaros", que dizimou a nação indígena tapuia, deixando entre seus
remanescentes a família Limão, que veio a ser a principal algoz do cangaceiro
potiguar.
Artista Raimundo Damasceno em sua residência |
Reportando-se
a relatos da história oral da Serra do Martins, o artista plástico e defensor
do patrimônio cultural martinense Raimundo Damasceno, mais conhecido como
Raimundo de Ozório, conta a história de cinco irmãos que ficaram escondidos na
serra, fugindo do recrutamento forçado para a Guerra do Paraguai, e
reapareceram, provavelmente, no ano de 1873, três anos após o término da
guerra, para erguerem o marco religioso denominado de "Nicho", que
veio a ser a primeira igreja de Martins, sendo a padroeira Nossa Senhora do
Livramento.
"Nicho",
Igrejinha de N. S. Livramento (1873)
|
Em
Imperatriz (Hoje Martins), o Professor Francisco Alves de Oliveira Maia compôs
uma relação de ricos senhores da província que fizeram doações para o
recrutamento, concedendo 4% de seu ordenado e gratificação, e também passou a
organizar a campanha de arrecadação de donativos para as tropas recrutadas.
Ilustração de Jesuíno Brilhante em HQ, de A. Sales e E. Amaral |
Entre
os recrutadores da região de Imperatriz, estava um primo de Jesuíno Brilhante,
o Alferes Francisco Alves Brasil, "Capitão Rola", que recebeu a
incumbência de recrutar os negros Limões, assim chamados como forma de se
legitimar a captura naqueles tempos escravagistas. O caboclo Chico Limão
resistiu ao recrutamento forçado e alvejou com uma descarga de bacamarte o
alferes, que veio a falecer e fez Jesuíno jurar vingança, dando início ao
conflito cangaceiro entre os Brilhantes e os Limões.
Quadro
em alto-relevo da Faz. Bela Flor
|
Em
1884, quatro anos após a morte de Jesuíno Brilhante, a família Alves Brasil
vendeu a Fazenda Bela Flor, na zona rural do município de Olho D'água do
Borges, ao também capitão da Guarda Nacional Justino Leite da Costa, migrando
para o norte do país para se inserir no ciclo da borracha.
Museu Júnior Marcelino |
Uma
prova material do legado do cangaço de Jesuíno Brilhante na Serra do Martins
pode ser encontrada na coleção de punhais do Museu do auto-didata Júnior
Marcelino.
Texto: Epitácio de Andrade Filho, Médico Psiquiatra e Pesquisador Social
Para o BLOG DO SARGENTO ANDRADE
Via: gardeniaoliveira.blogspot.com.br
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