quarta-feira, 27 de junho de 2012

Minha Terra

No lugar onde eu resido
Fechadura inda é tramela
Não é tão evoluído
Mas já se assiste novela
E também telejornal
Já se mistura nescau
Com o puro leite de vaca
Lá se come sanduíche
E se diz oxente e vixe
E se enfia o pé na jaca.

Zona não existe mais
Acabaram os cabarés
O serviço hoje se faz
Lá nos quartos dos motéis
Que ficam na rodovia
Se prestam pra putaria
E pro namoro em segredo
Quem não tem o “faz-me-rir”
Só resta se “divertir”
No matagal e lajedo.

Moleque lá faz mandado
Temendo o cuspe no chão
Mas celular é usado
E de última geração
Muitos costumes mudaram
Pra melhor ou pioraram
Mãe solteira hoje é normal
Ninguém mais se escandaliza
Com o que o povo realiza
No plano sexual.

E por lá tem parabólica
Que leva o mundo até nós
E tem a turma católica
Tal qual a nossos avós
Devota de Padim Ciço
Quem não gosta muito disso
É a Igreja Glacial
Que não tolera romeiro
Mistura fé com dinheiro
E Jesus com capital.

No Natal o mercantil
Sufocou a cristandade
Mas inda tem pastoril
Em uma ou outra cidade
Ainda se vê reisado
Ou algum presépio armado
Lembro que o Menino
É o motivo da festa
Isso é coisa que ainda resta
No natal do nordestino.

Ouve-se a trova brejeira
Do grande Chico Pedrosa
E se dança a noite inteira
Com a Gatinha Manhosa
Mastigo cravo e chiclete
E essa tal de internet
Pra mim não é novidade
Que espanto não lhe cause
Mas sempre vou na lanrause
Quando visito a cidade.

Crianças vão à escola
Menos no tempo de inverno
Pois até trator se atola
E pra passar é um inferno
Já para a agricultura
É uma beleza pura
De verde o campo se cobre
Plantio de rico se irriga
Mas a seca inda castiga
A roça do homem pobre.

Inda se tange boiada
Em um cavalo montado
Porém a moto é usada
Também pra cuidar do gado
Pro trampo botina calço
Pro lazer um Naique falso
Nos meus pés eu logo enfio
Se agarro uma gatinha
Já uso até camisinha
Pois na sorte eu não confio.

Vaqueiro veste gibão
Com roupa que vem da China
Padeiro fabrica o pão
Com trigo da Argentina
Interior não se isola
Escuta o som da viola
O verso do cordelista
O forró de pé-de-bode
Mas também axé, pagode
E até fanque entra na lista.

Tem muita festa animada
Com os herdeiros do rei
Porém parte da moçada
Só quer o som do djidjei (DJ)
Lampião inda é herói
Pois foi o nosso caubói
Embora rei dos bandidos
Hoje herói tem de montão
Nesses filmes do Japão
Ou dos Estados Unidos.

O tigrão e a lacraia
Do jeito que vêm se vão
E duvido alguém dar vaia
Pras músicas de Gonzagão
Pode até não se gostar
Mas se sabe respeitar
Reconhecer o valor
Que venham Jamil, Chiclete
A Cláudia Leite, a Ivete
Venha lá seja quem for.

Até Mulher Melancia
Vindo virada no créu
Mostrando a lapa da jia
Não derruba Maciel
Nem Petrúcio, nem Santana
E pá de gente bacana
Do forró de pé-de-serra
Que vá praquele lugar
A calcinha, o caviar
Que o forró vence essa guerra.

ESSA É BOA


Texto: José Onório

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