segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O QUE É A VELHICE?


 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dois velhos filosofavam
Acerca de suas vidas
Sobre tudo comentavam
Amores, dores e feridas
Ela falava baixinho
Ele escutava sozinho
Aquelas frases sofridas:

É sempre muito cruel
O mundo em que a gente vive
Pois o que está no papel
Na prática não sobrevive
O respeito ao idoso
É um assunto jocoso
Demagogo, inclusive

Você tem toda razão
- disse o velho à senhora-
A tal discriminação
É a atitude 'da hora'
A nossa categoria
Jamais ganhou alforria
E a humanidade ignora

Ser velho neste planeta
É como não valer mais
É como uma camiseta
Rasgada na frente e atrás
É viver na solidão
No meio da multidão
Não sendo visto jamais

É mesmo muito ruim
O que sentimos agora
Mas nem sempre foi assim
Ao longo de toda História
O velho tinha valor
Sapiência e amor
Status, luzes e glória

Era muito respeitado
Por ser mais experiente
Bastante considerado
Por ser de tudo ciente
Mas perdeu sua importância
Quando surgiu a ganância
Da parte do mais valente

Alguns os chamam trambolho
Fardo, inútil, atrasado
Não põem as barbas de molho
Vivem um tempo parado
Acham que o hoje é eterno
Se julgam sempre moderno
Amanhã serão passado

Quero provar que o homem
Não suporta envelhecer
A mal, por favor, não tomem
Este meu (pré) parecer
Mas é que tudo conheço
E respeito então mereço
Pelo que vou escrever

Tá certo, nada é igual
Uns estão na solidão
Em casa ou num hospital
Em asilo ou em pensão
Mas se a gente não sorrir
Não namorar, não sair
Piora a situação

Se o velho rico recebe
Tratamento especial
E o velho pobre, da plebe
Mal toma um fino mingau
Não vejo o governo agir
Não tenho porque mentir
Vida boa é a de Lalau

Nem todo velho é ranzinza
Nem todo outono é tristeza
Nem toda nuance é cinza
Nem toda falta é pobreza
Nem tudo que é novo é zero
Nem tudo que tenho quero
Nem toda tese é certeza
 
Fragmentos do cordel "O que é a velhice" da autora;
-Salete Maria

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